Espécies de peixe ameaçadas de extinção são vendidas ilegalmente no Sul

29/12/2016 13:27

 
A simples designação de “filé de cação” em mercados pesqueiros do Sul pode estar escondendo um comércio ilegal de peixes ameaçados de extinção. Ao comprar a carne, que a olho nu não tem características diferentes dos peixes cuja pesca é permitida, o consumidor pode, sem saber, contribuir para a extinção de tubarões e raias fundamentais para o equilíbrio dos mares no litoral sul do Brasil.
 
O alerta foi dado por um estudo realizado pela Unisinos com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Entre 2012 e 2013, pesquisadores percorreram pontos de venda em 12 cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina coletando amostras de peixes para depois identificar, por meio de testes de DNA, quais eram as espécies de tubarões e raias mais comercializadas como cação. Eles até desconfiavam que encontrariam espécies ameaçadas entre as coletadas, mas o que descobriram ficou além do esperado.
 
— Ficamos surpresos com os resultados. Encontramos mais espécies que não poderiam ser pescadas, algumas inclusive protegidas por lei, do que aquelas que são permitidas — explica o professor Christian Sperb, que fez seu mestrado em biologia sobre o tema.
 
Entre as espécies identificadas no estudo, conforme Sperb, 53% não deveriam ter sido capturadas ou comercializadas. Metade também está incluída na legislação do governo federal que restringe a pesca desses animais, permitindo o comércio apenas para quem obtiver licença que assegure a pesca sustentável e legal dos exemplares.
 
A explicação para a captura e venda desses animais pode estar no modo como a pesca é feita. Grandes redes jogadas ao mar podem trazer de volta, além dos peixes que os pescadores procuram, também espécies como o peixe-espada e o cação-martelo. A atividade passa a ser ilegal quando os pescadores decidem abater esses peixes em vez de devolvê-los ao mar incólumes. Os pesquisadores não descartam também a possibilidade de que esses tubarões e raias ameaçados sejam o objetivo de alguns barcos, já que, apesar de a carne ter pouco valor comercial, itens como barbatanas têm alto valor no Exterior.
 
Ao consumidor, restam poucas chances de saber se a carne que está comprando é legal. Não há diferenças perceptíveis em aparência, textura ou sabor, e só foi possível definir a que espécies pertenciam as amostras através de exames genéticos. Diante disso, os cientistas recomendam apenas que, ao comprar filé de cação, se questione o pescador sobre a origem do produto.
 
As informações são do Diário Catarinense